“Nós estamos criando forças de combate à guerrilha, enquanto os nossos parceiros afegãos nos pedem aquilo que consideramos útil para uma “guerra de alta tecnologia” – blindados e tudo isso”, declarou aos jornalistas em Cabul, ainda em fevereiro, o brigadeiro australiano Adam Findlay.
Até ao início de 2013, as Forças de Segurança Nacional do Afeganistão (ANSF) receberam ajuda militar estrangeira no valor de aproximadamente 10 bilhões de dólares. Os criadores do novo Exército afegão pensavam que ele tinha tudo o que era necessário. Mas, em janeiro de 2013, além de dinheiro e do armamento vulgar, a direção afegã pediu ao Ocidente aeróstatos, drones, tanques e aviões. Na altura, os peritos explicaram isso pela má influência sobre os afegãos da experiência do uso do “modelo soviético” na organização das Forças Armadas. Nos anos de 1980, o Afeganistão tinha três divisões de blindados (mais de 570 tanques T-55) e a sua Força Aérea contava com cerca de 500 aviões de assalto e bombardeiros, aviões de transporte e helicópteros.
Neste momento, a Força Aérea deste país tem apenas 72 unidades de material pesado. Os helicópteros de transporte Mi-17 da Força Aérea afegã são pilotados por conselheiros militares da República Tcheca. Conforme o segundo comandante da Força Aérea da ISAF general Kenneth Wilsbach, nos tempos mais próximos é esperado o fornecimento de 12 helicópteros Mi-17 e de quatro aviões de transporte C-130: dois no outono e dois na primavera do próximo ano. O comandante do grupo de conselheiros aeronáuticos da OTAN no Afeganistão, o brigadeiro norte-americano Steven Shepro anunciou planos de modernização dos Mi-17S e fornecimentos de novos modelos de aviões de assalto ligeiros: 20 aviões a hélice A-29 Super Tucanos. Mas estes só serão fornecidos em 2014, atingindo a prontidão operacional completa em 2018.
Além disso, numa entrevista em junho ao Air Force Times, o mesmo Wilsbach reconheceu que o simples fornecimento de material neste momento não vai ajudar em nada. “Para realmente voar, combater e dar apoio aéreo às tropas eles precisam de pilotos e tripulantes, técnicos e pessoal de apoio.” A Força Aérea afegã conta agora com apenas 99 pilotos. Outros 200 ainda estão aprendendo a voar. Ainda há seis helicópteros Mi-35, mas, segundo Wilsbach, desde o ano passado eles nem sequer voam por falta de manutenção e as suas tripulações terão de ser recicladas e fazer novos exames de qualificação.
A guerrilha está sendo combatida por forças especiais. Será que as coisas correm melhor para as forças de operações especiais afegãs? Segundo disse em julho à revista Stars and Stripes o capitão dos comandos afegãos Folad Sherzad, “os helicópteros são muito úteis e muito importantes, com a sua ajuda nós atacamos o alvo diretamente. Também o inimigo tem receio, quando sabe que o Exército afegão tem helicópteros, porque ele não pode fazer nada contra eles”.
Para uma atuação eficaz do seu destacamento aéreo, os comandos precisam de 806 especialistas. No início do ano, eles eram apenas 180. O problema é que os candidatos devem, no início, passar por um processo de verificação de um ano e meio para separar aqueles que estão ligados ao mundo do crime e aos talibãs. Também há problemas com o material. Neste momento, os militares norte-americanos estão tentando pôr em funcionamento metade dos 30 helicópteros Mi-17 desse destacamento. Segundo o theTrumpet.com, “se as tropas da OTAN retirarem amanhã, eles ficarão a enferrujar nos aeródromos, como já tinha acontecido no final dos anos de 1980”.
Em suma, segundo os militares americanos, pelo menos nos próximos dez anos, o comando afegão não estará em condições de realizar operações de apoio e abastecimento das suas tropas. Os resultados das primeiras operações de 2013, nas quais pela primeira vez o papel principal foi atribuído às forças de segurança afegãs, demonstraram que o atual modelo do Exército afegão, sem o apoio e atuação de uma aviação de combate e de transporte externa, já neste momento resulta numa redução da eficácia das operações e numa grande quantidade de baixas nos efetivos. Esse problema existiu durante os 12 anos de presença de tropas da coalizão ocidental no Afeganistão e dificilmente será resolvido até à sua saída. Não se percebe porque só começaram a discuti-lo neste verão.