segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O banco mundial

Mestre Edu Dallarte


O Banco Mundial - Parte I
Posted: 22 Dec 2010 06:03 PM PST


Bretton Woods não existe. No sentido que não há nada: é só o nome duma localidade do New Hampshire, no Norte dos Estados Unidos.
Circundada pela floresta do White Mountain, pode contar apenas com duas construções: a Mount Washington Cog Railway, uma ferrovia de montanha, e o Mount Washington Hotel. Nada mais do que isso.

No entanto, Bretton Woods é lembrada nos livros de História por causa duma conferência: entre os dias 1 e 22 de Julho de 1944, 730 delegados de 44 Países reuniram-se no hotel para decidir o futuro económico do mundo. E conseguiram.

Os acordos de Bretton Woods

Mount Washington Hotel, Bretton Woods
Enquanto na Europa e no Pacífico continuavam a falar as armas, nesta perdida localidade de montanha foi definido um sistema para gerir o post-guerra.

Foram criadas, entre outras, algumas organizações: o Banco Mundial (na altura denominado Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento) e o FMI (Fundo Monetário Internacional). E foram postas as bases do protocolo GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, operativo só desde 1947), um sistema de relacionamento económico multilateral para favorecer a liberalização do comércio mundial. 

Os acordos de Bretton Woods acabaram nos primeiros anos da década '70, mas duas organizações ainda existem: FMI e Banco Mundial.

Hoje vamos tratar desta última, ficando o Fundo Monetário para uma próxima análise.


As boas intenções do BIRS

O Banco Mundial nasceu como Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, BIRS. A ideia era implementar um banco que pudesse ajudar a reconstrução dum mundo acabado de sair da pior guerra e favorecer o desenvolvimento.

Mais tarde, como não havia mais nada para reconstruir, o BIRS tornou-se Banco Mundial e acabou por ser parte das Nações Unidas, com a finalidade de ajudar o desenvolvimento dos Países mais pobres.

Boas intenções, sem dúvida. Pena que, como se costuma dizer, de boas intenções é feita a estrada para o inferno. E o Banco Mundial nunca foi uma excepção neste sentido.    


Os homens fortes

Começa a ser um pouco aborrecido fazer este tipo de pesquisa: são sempre as mesmas coisas. Pior ainda: os mesmos nomes.

Pegamos na lista dos directores do Banco Mundial, com a datas do respectivo "reinado":
Eugene Meyer (Junho 1946 - Dezembro 1946)
John J. McCloy (Março 1947 - Junho 1949)
Eugene R. Black, Sr. (? 1949 – ? 1963) 
George D. Woods (Janeiro 1963 - Março 1968)
Robert McNamara (Abril 1968 - Junho 1981)
Alden W. Clausen (Julho 1981 - Junho 1986)
Barber B. Conable (Julho 1986 - Agosto 1991)
Lewis T. Preston (Setembro 1991 - Maio 1995)
James Wolfensohn (Junho 1995 - Maio 2005)
Paul Wolfowitz (Junho 2005 - Junho 2007)
Robert Zoellick (Junho 2007)

E agora vamos ver quem foram estes cavalheiros.

Eugene Meyer
Já encontrámos Eugene Meyer, judeu, tinha sido chefe da Federal Reserve entre 1930 e 1933, na altura em que a Fed era (era???) dominada pelo banco JP Morgan. E o mesmo Meyer era sócio da AlliedSignal, futura Honeywell.

John J. McCloy era conselheiro jurídico da I.G. Farben (ver artigo Pecunia non olet), a sociedade ligada com duplo fio ao Terceiro Reich. O que já explica muitas coisas.
Após o mandato no Banco Mundial, McCloy trabalhou como director da Morgan Chase, da Ford Foundation (fundada por Hedsel Ford, já sócio da IG Farben America), administrador da Rockfeller Foundation e conselheiro das Sete Irmãs, as companhias petrolíferas mais poderosas do mundo.

Com um curriculum assim, McCloy não podia não dizer uma palavrinha acerca da morte do Presidente Kennedy, por isso fez parte da Comissão Warren, a mesma que estabeleceu que o único responsável da morte de JFK tinha sido Lee Harvey Oswald.

Eugene R. Black, Sr. era filho de Eugene Robert Black, presidente da Federal Reserve. Em 1933 foi vice-director da Banco Chase (hoje Morgan Chase), o banco de John D. Rockfeller Jr. Deixou o cargo em 1949, para ser director do Banco Mundial.

JFK e Robert McNamara (Fonte: CBS)
George D. Woods começou a trabalhar para a empresa Harris, Forbes & Co., até esta ser adquirida pelo banco Chase. Woods tornou-se vice-presidente da empresa e, mais tarde, vice presidente da First Boston Corporation, sempre do grupo Chase.

Robert McNamara não foi simplesmente um dos presidentes do Banco Mundial ou da Ford Motor Company: foi muito mais do que isso, uma verdadeira eminência parda dos Estados Unidos.

Alden W. Clausen, homem forte da BankAmerica, antes e depois de ser presidente do Banco Mundial

Barber B. Conable é o único acerca do qual não encontrei nada que tivesse a ver com bancos ou empresas privadas. Sem dúvida escapou-me algo.

Com Lewis T. Preston voltamos à normalidade: era presidente da J.P.Morgan.

James Wolfensohn trabalhou com James Armand Edmond de Rothschild, na Chrysler, Salomon Brother, Citigroup, Rockfeller Foundation. Também participa nas reuniões dos Grupo Bilderberg.

G.W.Bush e Paul Wolfowitz
Paul Wolfowitz, hebreu de origem polaca (de facto tem duas nacionalidades: norte-americana e israelita), é outra eminencia parda do establishment dos Estados Unidos.

Aliás, "era", não é, pois a sua reputação sofreu um duro golpe após ter ficado envolvido num escândalo enquanto presidente do Banco Mundial: aumentava o salário da sua namorada, também empregada do Banco Mundial, em milhares de Dólares de cada vez. Por isso foi obrigado a demitir-se.

Wolfowitz não parece ter nenhuma ligação directa com bancos ou empresas privadas, mas em verdade tem muito mais do que isso.

Os relacionamento com Israel são muito fortes (Wolfowitz viveu em Israel), o pai dele trabalhava no Israel Institute of Techonology, e era presente na reunião com o presidente G. Bush (pai), Dick Cheney e Colin Powell (27 de Fevereiro de 1991) onde foi decidido o ataque contra o Iraque.

Obviamente, Wolfowitz trabalhou com o presidente G.W.Bush (o filho) e Donald Rumsfield na preparação da segunda guerra contra o Iraque. E do Afeganistão também.

Resumindo: é uma pena Wolfowitz não ter-se  limitado a simples ligações com os bancos...

Fechamos com o actual director do Banco Mundial: Robert Zoellick. Ex director da Goldman Sachs,  ex vice-presidente da Fannie Mae (o banco recentemente nacionalizado para evitar a bancarrota), foi também conselheiro executivo da Enron, a multinacional dos EUA que em 2001 faliu deixando um buraco de 60 biliões de Dólares.

Com um curriculum deste, chegar ao topo do Banco Mundial era o mínimo.

Moral

G.W.Bush e Robert Zoellick (Fonte: Life)
Esta lista demonstra uma coisa bastante simples: os directores do Banco Mundial, sempre escolhidos entre Americanos, nunca foram sujeitos imparciais e sempre (com apenas um excepção) revelaram fortes ligações com bancos ou grandes empresas privadas dos Estados Unidos.

Na lista apenas citada aparecem os nomes Morgan Chase, Rockfeller, Rotschild, Citigroup, Goldmans Sachs, BankAmerica. Nomes já encontrados vezes sem conta..

É normal que homens de sucesso possam alcançar posições de topo.
É menos normal que as posições de topo sejam constantemente alcançadas por elementos com a mesma proveniência.

Como ponto de partida do Banco Mundial não é grande coisa.


Acaba aqui a  primeira parte do artigo. Em breve a segunda.
Viver para sempre
Posted: 22 Dec 2010 07:03 AM PST
Sinto-me confuso hoje, 
parece que as regras mudaram de novo. 
Porque na minha vida tento com fadiga 
fazer tudo para ficar saudável. 
E viverei para sempre, 
cada vez uma nova manhã, 
viver para sempre, 
mais outra manhã.

É Natal: tempo de prendas, de passar o nosso tempo com a família, no calor das nossas casas.
É tempo de ser melhores e generosos.
Vamos falar de morte.

Escreve Mescar num comentário acerca do artigo O regresso do Armageddon:
Hoje ninguém mais pode morrer
Verdade. Acho isso uma profunda verdade.

A morte faz parte da nossa vida: todos, cedo ou tarde, teremos que morrer. Pelo menos, do ponto de vista estatístico até hoje sempre foi assim.
E sem morte, que seria da vida? Imaginem de viver num planeta onde ninguém morre: passadas algumas centenas de anos nem haveria lugar para ficar em pé.

Mesmo assim, nada na nossa sociedade fala da morte.
Que fique claro: ninguém aqui quer implementar uma "cultura da morte".
Eu também irei morrer (acho) e a ideia não me agrada, nada mesmo.

Além disso, enquanto estivermos vivos, acho muito bem dedicar o nosso tempo às coisas terrenas.
Logo após o terramoto de Lisboa de 1755, o Marques de Pombal disse Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos.
Justo.
 
Mas não há possibilidade de escolha: cedo ou tarde acontecerá. Por isso porque ignorar o assunto?
Porque não preparar-se para que a altura não seja uma tragédia mas um facto natural?

No Hinduísmo e no Skhismo a morte não é vista como o fim, mas como uma passagem: a alma abandona um corpo já velho para habitar um corpo novo. Por isso a morte representa um momento menos dramático.

Oiço na rádio,
demasiado do que dizem não é verdade,
e agora temos que fazer estas coisas,
que antes estavam erradas,
para ficar saudáveis e fortes.
E viver para sempre,
cada vez mais uma manhã,
viver para sempre,
mais uma manhã

Estou a fazer filosofia de treta? Pode ser.
Mas olhamos para a nossa sociedade.

As ruas, os média, estão repletos de publicidade para que cada um de nós possa ficar fisicamente melhor: até para adiar o passo final.

Alguma vez viram uma publicidade que convidasse a enfrentar a morte com serenidade?  Não, não existe.
E porquê? Porque os mortos não consomem. Eis o grande problemas deles.

A morte não dá lucros. Sim, há o negócio dos caixões, dos enredos fúnebres, dos seguros, como vimos no artigo anterior. Mas reparem: todos tratam a pessoa como objecto, nunca como sujeito. Até estes aspectos finais desfrutam o corpo, não tratam da maneira como a pessoa encarou a morte.

Mescar:
Querem nos convencer que sem medicamentos tomados diariamente não podemos viver.
Eis o ponto. Uma pessoa pode representar um lucro só antes de morrer, e nesta altura pode ser explorado enquanto consumidor. Depois, já não pode consumir nada, então para que tratar do assunto?


Sei que ninguém precisa disso,
sei que ninguém acredita nisso,
não temos a resposta,
pensamos saber
o que realmente importa,
o que realmente querem é governar as nossas vidas


Resultado: ninguém está preparado para a morte.

A nossa convicção é que temos de fazer tudo para evitar abandonar este mundo.

Ideia correcta, claro, mas que pode esconder atitudes perversas: como embutir-se de medicamentos que afinal pioram o nosso nível de vida.

O que preferem?
Viver até 80 anos com uma vida saudável, relativamente autónoma, podendo desfrutar das coisas boas da vida; ou chegar aos 120, totalmente incapazes de pensar?

Ou até viver para sempre?
Penso que mudarei a minha vida hoje
já foram todos os cuidados,
não preciso duma razão,
porque a única razão é sobreviver ainda um dia de forma certa
Ou apenas até amanhã.
Ainda um amanhã,
viver para sempre,
realmente desejamos viver para sempre?

A nossa sociedade, assim atenta a qualquer nossa necessidade ou alegada tal, abandona-nos numa das alturas mais delicadas: o momento da morte. Ficamos assim sozinhos, com os nossos medos e as nossas dúvidas.

"Incorrecto" é o mínimo que podemos dizer.


Ipse dixit.


Nota: As letras pertencem aos Genesis, "Living Forever". O leitor pode não concordar com o que escrevi, pode criticar a minha pessoa e até a minha família; mas NUNCA pode criticar os Genesis :)

Fotografias: Cemitério Monumental de Staglieno, Genova, Italia.
A morte enriquece
Posted: 22 Dec 2010 05:06 AM PST
O vosso avô é velho? E tem um seguro de vida?
Ora bem, chegou a altura de pôr o velhote a render.

Peguem no seguro (se o avô oferecer resistência podem ameaça-lo), liguem para a empresa Life Partners, vendam o seguro e fiquem com o dinheiro. Com o qual podem sempre comprar uma prenda (não muito cara) para o velhote, que afinal merece uma parte (pequena) do dinheiro.

Esta é a ideia dum novo business que está a florescer nos Estados Unidos. Empresas como Life Partners apostam na morte do beneficiário do seguro. Como é que ninguém ainda tinha pensado nisso?

De facto faz sentido: qual a graça em receber o dinheiro uma vez mortos? Fica mais simpático antes, não depois de ter deixado este mundo.

E porque não investir na morte? Pois é disso que estamos a falar.

O aspecto ainda mais mórbido é que Life Partners não compra o seguro de vida da pessoa idosa: convence investidores a compra-lo. E quando o velhote morrer, o investidor fica com o valor do seguro. Entretanto, claro, o idoso recebe logo o dinheiro, sem ter de morrer por isso.

Desta forma, o investidor que adquire o seguro torce para a morte do velhote. Quanto mais depressa este morrer, de facto, tanto maior será o lucro, pois os valores reembolsados descem com o passar dos anos.

E se o velhote não morrer? Pode ser um idoso teimoso. E malcriado também, pois desta forma o investidor perde dinheiro. Mas não muito, pois cedo ou tarde o velhote morre. Por isso é só esperar que a Natureza faça o trabalho dela..

Mas quem é Life Partners?
É uma empresa sediada no Texas e avaliada na Bolsa de Wall Street, fundada por Brian Pardo. Que, com esta ideia, ganha 1.061.637 Dólares por ano. Nada mal para um coveiro.

As acções da Life Partners começaram com um valor de 2-3 Dólares, mas nos últimos dois anos ganharam bastante e agora alcançaram os 18 Dólares. Em 2010 o útil líquido será de 29 milhões de Dólares.

Agora é só esperar para ver qual será a próxima fronteira da decência que a Bolsa conseguirá atropelar.

 
Fonte: Life Partner, Forbes.
Uma estátua muuuuito grande
Posted: 22 Dec 2010 04:19 AM PST
Enquanto os diários europeus estão a entreter-se com a vaga de frio (horror, frio em Dezembro, quem poderia ter imaginado!) e os brasileiros publicam sondagens que em nada mudam a realidade (governo de Dilma será melhor ou igual ao de Lula para 83%? Sim, e agora?), algo de muito esquisito está a passar-se.

O Wall Street Journal de ontem publicou a notícia pela qual um único comprador adquiriu 3 biliões de Dólares de cobre. 

Mais ou menos 300.000 toneladas de metal, pouco menos do que todo o cobre "armazenado" na Bolsa de Londres. Isso aconteceu no princípio do mês.

O que podemos fazer com esta quantia de metal? Em verdade pouco: uma estátua muuuuuuito grande, por exemplo. Ou algo de mais pérfido. 
Tipo? Tipo adquirir a matéria prima para depois controlar o preço.

E, de facto, o preço do cobre continua a subir, tendo já ultrapassado os valores máximos de 2008.


Os mesmos. Sempre os mesmos.  

Mas quem pode ter o interesse em manipular o mercado?
O Telegraph revela o nome do comprador: JP Morgan.
O quê??? Sim, ainda uma vez: um dos mesmos. Sempre os mesmos. Parece não poder existir algo de obscuro no planeta sem a presença deles.

Então mudamos de pergunta: o que faz JP Morgan com 3 biliões de cobre? Outra vez: uma estátua muuuuuito grande? Improvável.

Mais prováveis são duas hipóteses:

1. JP Morgan está a preparar um produto derivativo baseado no cobre. 
Atrai os clientes com a promessa de grandes lucros, pois o preço do metal está a subir, e muito. 
Uma vez vendido o derivativo em razoável quantidade, JP Morgan vende o cobre, ganha um dinheirão, o cobre perde valor, quem comprou o derivativo perde boa parte do investimento.

2. A segunda possibilidade é um pouco mais complexa. Neste caso JP Morgan, Goldman Sachs e HSBC (Los Bandidos) estão a "empurrar" o preço do cobre para favorecer a extracção da prata. Pois a prata é um subproduto da extracção do cobre e JP Morgan precisa desesperadamente de prata por causa de acordos com a Federal Reserve.

Seja como for, a história faz lembrar a do cacau, no Maio passado. Passou despercebida pois na altura o tema principal era a Grécia com os seus problemas económico-financeiros. Mas também neste caso houve um misterioso comprador que adquiriu 50% do cacau disponível, para depois vender tudo e fazer ruir o mercado do cacau.

Interessantes os comentários ao artigo do Telegraph: muitos dos leitores pedem para que as autoridades prendam os gestores da JP Morgan (o que, dito entre nós, não seria má ideia), outros pedem a pena de morte reintroduzida só para eles.

Moral da história

Esta história é interessante por duas razões.

Em primeiro lugar mostra como o mercado seja refém das decisões de poucos.
É suficiente que alguém acorde uma manhã com a vontade de comprar uma matéria prima, para que o valor desta dispare. Agora acontece com o cobre, o que não tem grandes repercussões na nossa vida. Mas não existe só o cobre. 

Tudo isso sem controle, sem regras, sem limites.

A seguir: isso pode dar uma ideia de futuros desenvolvimentos para a nossa sociedade. Sabemos que os recursos não são ilimitados: quando uma matéria prima atingir o limite de produção, alguém pode comprar tudo e ter refém o resto do mundo. 

Tudo isso, ainda uma vez, sem controle, sem regras e sem limites.


Ipse dixit.


Fontes: Jornal do Brasil, The Wall Street Journal, The Telegraph,

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